"No verão passado, estava num parque, a descansar à sombra de uma árvore.
Próximo de mim, a cerca de vinte metros de distância, havia um jovem casal a conversar, enquanto a sua filha, uma menina de aproximadamente três anos de idade, brincava sozinha, a correr na relva.
Distraídos, os pais não viram a filha afastar-se.
Quando finalmente perceberam a distância da filha, a mãe passou a chamá-la pelo nome:
- Joana!... Joana, volta para aqui. Joana!... Ó Joana!...
Indiferente aos chamados maternos, a menina apenas mudou de direcção e continuou a passear, afastando-se.
A mãe, impaciente, tenta uma outra estratégia para fazer a filha voltar, e passa a alertá-la sobre supostos perigos:
- Joana, volta para aqui, senão um besouro pica-te! Joana!... Joana, olha o bicho! Lá vem o bicho... O bicho vai apanhar-te, vai-te morder, estás a ouvir Joana!.. O besouro vai-te picar! Volta aqui senão ele pica-te!
A estratégia surtiu efeito e a filha, receosa, retorna para a proximidade dos pais."
Quão comum é esta situação?
Creio que muitos de vocês já presenciaram alguma situação semelhante, ou podem, até mesmo, já terem utilizado técnicas semelhantes de ameaça para manipular o comportamento de uma criança.
Pessoas, de todas as idades, estão constantemente a deparem-se com situações semelhantes.
Quando o falante se torna incapaz de se impor de uma forma eficiente e positiva, passa, então, na maioria das vezes, a utilizar ameaças como uma estratégia de obter as respostas desejadas do ouvinte.
Esse facto, comum na vida quotidiana de todas as pessoas, é, na verdade, um bom exemplo de como se pode usar as ameaças como um modo de manipular o comportamento das pessoas.
No entanto, são essas pequenas ameaças e punições que, quando usadas de modo incisivo e emotivo, podem transformar-se em terreno fértil para o fortalecimento de medos, ou fobias futuras.
Mas afinal, o que são as fobias?
O termo "fobia" vem de muito longe, da Grécia Antiga, e foi inspirado em Fobus, o deus grego do medo.
Portanto, as fobias são medos intensos e irracionais de objectos ou de situações específicas.
Uma pessoa com fobia evita fazer determinadas tarefas, ou ir a lugares onde acredita poder se deparar com o objecto temido.
Alguns exemplos:
- Uma pessoa com claustrofobia evita entrar em lugares fechados, ou de tamanho reduzido;
- Uma pessoa com aracnofobia pode evitar passar as suas férias no campo, ou entrar numa casa antiga, por causa do medo de se deparar com uma aranha;
- Crianças e jovens que foram repreendidos muito severamente pelos pais quanto ao seu comportamento social, ou que se sentiram desmoralizadas e humilhadas em público, podem tornar-se pessoas extremamente tímidas e incapazes de falar em público e de expressar seus próprios sentimentos, podendo tornar-se, no futuro, pessoas muito preocupadas com o julgamento de terceiros, fazendo com que o seu próprio comportamento fique comprometido por causa das suas crenças limitadoras e das suas inseguranças. Essas crenças, por sua vez, podem produzir sintomas de ansiedade e um comportamento onde evitam exporem-se em público chamado de fobia social.
Por afectar a vida das pessoas de modo a limitar seu comportamento e causar mal-estar, as fobias são classificadas como doenças mentais e fazem parte de um grupo maior de doenças que recebem o nome de Transtornos de Ansiedade.
As fobias atingem até 10% da população e tem uma incidência 50% maior nas mulheres, atingindo pessoas de todas as idades.
As fobias mantém-se funcionais através de um processo chamado Reforço Negativo.
Isto é, sempre que o indivíduo desiste de enfrentar o objecto, ou a situação que o amedronta, ele tem um alívio de seus sintomas de ansiedade, então, dessa maneira, reforça o comportamento de fugir, aumentando sua frequência e nunca encarando e enfrentando o medo de frente.
A fuga torna-se parte do "comportamento normal" do indivíduo e ele passa a criar no dia-a-dia diferentes estratégias para se distanciar dos seus temores.
Em muitos casos, a pessoa tenta aliviar sua frustração criando algumas teorias de explicação do seu comportamento que visam minorar o problema, justificá-lo, ou trata-lo como algo irrelevante e que não a afecta.
Embora os medos explícitos sejam mais proeminentes do que os medos implícitos, o medo dissuadido parece ser mais danoso para o homem do que os medos explícitos, ou as fobias assumidas.
Isto acontece porque o medo implícito, aquele que a pessoa faz de conta que não existe, ou que tenta trata-lo como algo irrelevante, mas que na realidade ela não consegue enfrentá-lo, age abaixo do limiar da consciência do indivíduo.O medo implícito influencia, ocultamente, as decisões e escolhas que os indivíduos têm que realizar durante a vida.
Sendo assim, a escolha de uma profissão, o ciclo de amizades, a saída da casa dos pais, e, até mesmo, a escolha de parceiros para relacionamentos, podem estar a ser afectadas pela antecipação mental que o sujeito faz das situações que ele acha que irá enfrentar.
Os psicoterapeutas acreditam que o medo fóbico pode originar-se de três principais maneiras:
1. Como resultado de associações entre um objecto, ou uma situação, a fortes emoções de medo e ansiedade;
2. Por influência do comportamento de outras pessoas medrosas – aprendizagem por observação; e
3. Pela transferência de informações do meio (cultura, família, religião), quando o indivíduo, ou a criança do exemplo acima, é alertada, ou ensinada sobre os supostos perigos de determinados objectos ou situações.
Essas características podem vir sozinhas ou acompanhadas umas das outras, na verdade, é o conjunto desses factores que provocará o medo ou a fobia.
Como as fobias são doenças mentais, elas devem ser tratadas, pois o não tratamento pode provocar problemas mais graves, ou levar a pessoa ao álcool, ao tabaco ou outras drogas, numa tentativa frustrada de controlar a ansiedade.
Um dos tratamentos mais indicados é a HIPNOTERAPIA, sendo também indicados a terapia cognitivo comportamental e as psicoterapias focais breves.
Vale ressaltar que o tratamento, seja por qual método for, deverá ser elaborado mediante uma estratégia onde se enfrenta o medo e se trabalhe o controlo da ansiedade.
Sendo assim, em alguns casos, até terapias placebo tem conseguido bons resultados no tratamento das fobias, já que a mera presença do terapeuta mobiliza o paciente e incentiva-o a lutar e enfrentar o objecto temido.
Entretanto, convém sempre salientar que todos tratamentos e terapias, têm os seus riscos, pois, quando não funcionam, agem em concordância com o mecanismo de reforço negativo da fobia.
Podem, assim, acabar por reforçar ainda mais uma fobia, facto que dificultará os tratamentos subsequentes, pois diminuirá as esperanças e a motivação para a curar do problema em questão.
Portanto, se um dia você precisar de um serviço psicoterapêutico, mesmo que seja para tratar algo aparentemente simples, procure uma terapia adequada às suas necessidades.
Certifique-se de que o tratamento, escolhido para a fobia, seja breve e focal, pois existem algumas abordagens terapêuticas que não visam o tratamento breve e exigem muito mais tempo.
Trauma e Fobia
Devido à nossa facilidade de nos recordar-mos mais das emoções do que dos factos em si, uma fobia por ser instalada através de um único episódio traumático.
Imagine a seguinte situação:
"A menina do parque que andava sobre a relva vê um coelho e corre na sua direcção para o apanhar.
No momento que ela se abaixa para apanhar o coelho, ela é surpreendida com um grito desesperado da sua mãe, ao mesmo tempo que ouve a buzina e o chiar dos travões de um carro, que quase a atropela.
A mãe, aflita, corre e toma a filha assustada nos braços.
O choque emocional da situação, associado ao comportamento de apanhar o coelho [estímulo neutro] poderiam ser suficientes para transformar o coelho, que antes não representava qualquer ameaça, em um estímulo condicionado, ou seja, em algo muito perigoso.
Em alguns casos de fobias, a ameaça é absorvida de modo tão eficiente que uma única associação poderia gerar um medo fóbico a coelhos."
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