O Uso da Hipnose no estudo do "Déjà Vu".

Reprodução de um artigo publicado no site CiênciaHoje, www.cienciahoje.pt
"DÉJÀ VU":
Uma sensação inquietante.
O sentimento de já ter estado em algum sítio é persistente.

Muitos de nós já sentimos um "Déjà Vu" - uma sensação inquietante de saber que uma dada situação não pode ter já acontecido, combinada com o sentimento de que de facto já aconteceu. É normalmente um acontecimento tão breve que os psicólogos julgaram, até há bem pouco tempo, ser impossível de estudar. Mas, para algumas pessoas, o sentimento de já ter estado em algum sítio é uma sensação persistente, fazendo de cada dia um dia de “O Feitiço do Tempo”. Psicólogos do Leeds Memory Group estão a trabalhar com pessoas que sofrem de "Déjà Vu" crónico, no primeiro estudo do mundo sobre este acontecimento.
Chris Moulin encontrou 'pacientes' de 'Déjà Vu" pela primeira vez numa clínica de problemas de memória. “Nós tínhamos uma referência muito peculiar de um homem que disse que não valia a pena visitar a clínica porque ele já lá tinha ido, embora isto fosse impossível.” O paciente, não só acreditava genuinamente que já tinha conhecido Moulin, como deu detalhes específicos dos dias e sítios desses encontros.
O "Déjà Vu" evoluiu de tal maneira que ele deixou de ver televisão – até os noticiários – porque lhe pareciam ser repetições, e até acreditava ouvir o mesmo pássaro a chilrear os mesmos sons, na mesma árvore, todas as vezes que saía à rua. Os pacientes de "Déjà Vu" crónico não são simplesmente afectados com uma sensação de familiaridade com novas experiências, como também fornecem justificações complexas e plausíveis para defendê-lo.
Pela primeira vez, pessoas que sofrem de "Déjà Vu" crónico podem ajudar a garantir uma investigação válida do problema.
"Até agora nós completámos a parte da história natural deste problema – encontrámos maneiras de o testar e as questões clínicas próprias a serem perguntadas. O próximo passo é, obviamente, encontrar maneiras de reduzir o problema,” disse ele.
O estudante de doutoramento Akira O’Connor, subsidiado pelo Economical and Social Research Council, está a trabalhar com Moulin no sentido de encontrar maneiras de criar o fenómeno em laboratório. Akira começou a induzir o "Déjà Vu" em estudantes de Leeds através da HIPNOSE, pedindo aos estudantes para se recordarem de palavras, hipnotizando-os para as esquecerem e depois mostrando-lhes as mesmas palavras no-vamente para provocar a sensação de que já as tinham visto.

Aos estudantes era então pedido que fizessem relatórios subjectivos – como é que o "Déjà Vu" realmente se sente – em adenda à informação sobre o que eles conseguiam e não conseguiam lembrar.
Este novo programa de investigação, o Cognitive Feelings Framework (CFF), é único na universidade e está a ser dirigido por Moulin e o seu colega profissional da ESRC, Martin Conway. “Ao considerar um experiência subjectiva – sentimentos – através de uma perspectiva de uma ciência cognitiva esperamos conseguir entender melhor as sensações de "Déjà Vu" comuns, e também ajudar a compreender deficiências cognitivas, por exemplo, em outros adultos,” disse Moulin.
“Há pessoas que podem sofrer de "Déjà Vu" crónico mas não estarem dispostas a partilhar isso com os seus médicos – qualquer dica sobre uma ‘doença mental’ é, principalmente para pessoas mais idosas, um assunto tabu. Mas, assim que descobrimos este primeiro paciente descobrimos também que se forem perguntadas as questões certas, outras pessoas que já viveram a mesma coisa podem ser descobertas.”
0 "Déjà Vu" crónico pode ser stressante ao ponto de causar uma depressão, e a alguns pacientes foram dados anti-depressivos".
Mas o grupo de Moulin acredita não ser uma ilusão, mas sim uma disfunção da memória: O desafio é pensar sobre o que isto significa. Podemos usar isso para examinar as relações entre memória e consciência.
"O mais estimulante acerca destas pessoas é que elas conseguem ‘lembrar-se’ de detalhes específicos sobre um evento ou um encontro que nunca realmente aconteceu. Isso sugere que as sensações relacionadas com a lembrança estejam separadas dos conteúdos da memória; que existem dois sistemas diferentes em funcionamento no cérebro.” Moulin acredita que um circuito no nosso lobo temporal é activado quando recordamos o passado, criando a sensação de lembrança, mas também uma sensação de recordação – a sensação de nós próprios no passado. Numa pessoa que sofra de "Déjà Vu" crónico este circuito ou se encontra super-activo ou constantemente ligado, criando memórias onde elas não existem. Quando eventos novos são processados eles são acompanhados de um
sentimento forte de lembrança. Uma nova colaboração lançada este mês com o neuro-imaging lab da University of york fornecerá provas objectivas aos relatórios subjectivos fornecidos pelo CFF. “Ao examinar a experiência subjectiva de alguém é importante ter uma ideia se os seus dados subjectivos são comparáveis aos de outras pessoas,” disse Moulin. As instalações do neuro-imaging lab permitir-nos-ão ver se algumas partes do cérebro estão activadas em pessoas diferentes quando elas relatarem estados subjectivos. No fim, poderemos talvez até ser capazes de identificar zonas neurais importantes em estados conscientes como o de ‘lembrar’.”
Moulin está desejoso para criar uma rede de pacientes em Leeds e à volta do mundo que sofra de "Déjà Vu" crónico. “Nós estamos a encontrar pessoas por todo o mundo com problemas destes. Os pacientes de "Déjà Vu" crónico precisam de saber que não estão sozinhos, e nós precisamos que eles nos ajudem a aprender mais acerca de quem sofre disto, qual é a causa, e porquê.”