Ciência confirma influência da hipnose sobre actividade do cérebro


A hipnose induziu alterações específicas no funcionamento cerebral e os distúrbios comportamentais e a dor estão entre os alvos viáveis da técnica, diz o Dr. Colás.

A hipnose ainda projecta certa aura de mistério, mas esta técnica é uma ferramenta muito importante para tratar uma série de distúrbios que incluam componentes mentais e/ou emocionais.
Estudos recentes revelam que não há nada de mágico na hipnose: ela utiliza estados fisiológicos totalmente normais do cérebro para alcançar seus efeitos.

É o que conta o médico Osmar Ribeiro Colás, do Departamento de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do grupo de estudos de hipnose da instituição.
Um dos primeiros reconhecimentos abrangentes do potencial cientificamente comprovado da técnica veio em 1996, quando o Instituto Nacional de Saúde dos EUA (principal órgão de pesquisa médica do país) reconheceu sua eficácia para aliviar a dor em doenças crónicas, como o cancro.

"A pecha mística [da hipnose] sempre existiu e sempre vai existir, mas o seu funcionamento está bem caracterizado por estudos neurológicos", afirma o Dr. Colás. Esses trabalhos usaram tomografia funcional (ou seja, técnicas que acompanham mudanças nas várias regiões do cérebro) para ver o que acontece na mente de uma pessoa hipnotizada.
Os resultados reforçam o efeito real da hipnose sobre a mente. O Dr. Colás dá o exemplo dos estímulos visuais. Primeiro, os investigadores mostraram a pacientes não-hipnotizados uma tela totalmente preta e examinaram as suas actividades cerebrais. Depois, mostraram uma tela totalmente vermelha, registando de novo os padrões de actividade cerebral. Após hipnotizarem as pessoas, eles diziam-lhes que estavam ver uma tela vermelha, embora a tela real fosse preta. Voilà: o padrão cerebral dos hipnotizados era o de quem estava a ver a tal tela vermelha inexistente.

Segundo o médico da Unifesp, a hipnose pode, e deve, ser usada como uma óptima ferramenta por profissionais como hipnoterapeutas, psicoterapeutas, psicólogos, médicos, dentistas, entre outros.

Para ele, a hipnose encaixa-se de forma mais adequada na psicoterapia cognitiva e comportamental, podendo ajudar pacientes que sofrem de distúrbios de ansiedade, depressão, fobias, várias formas de dor, além dos que lutam contra a hipertensão, asma e obesidade.
Serve ainda como técnica de fortalecimento do ego, aumento da auto-estima e técnica motivacional. Ou mesmo para o treino e melhoramento de resultados de atletas.

No caso da dor, a hipnose pode modular a resposta emocional do paciente ao problema.
Como uma dor crónica causada pelo cancro, por exemplo, não inclui somente o componente físico, mas também o lado emocional de lidar com o problema, será possível desviar a atenção do paciente da situação pela qual está a passar.
Segundo o Dr. Colás, a chave da hipnose, está no facto de ela envolver processos fisiológicos normais, mas fazendo com que a atenção do paciente seja focalizada noutro aspecto, baixando e/ou afastando as suas barreiras conscientes/racionais, de forma a que ele possa aceitar o que lhe está a ser dito.
“Desta forma, as áreas do cérebro que têm a ver com a acção desejada acabam sendo activadas", afirma o médico.